A Revolta de Maguiguana



Cossa de Magude, Maguiguana, graças à sua bravura, valor pessoal e plena integração nos costumes angunes, conseguiu elevar-se à posição de comandante-em-chefe do Exército. Contudo, não podia comparecer aos conselhos que reuniam os membros da nobreza de Gaza (67).

Não comandou os regimentos que atacaram em Coolela. Encontrava-se, na altura, no Bilene tentando, apressadamente, mobilizar outras forças para enfrentar o avanço da coluna partida de Inhambane.

Mouzinho de Albuquerque enumera, deste modo, as causas da revolta organizada por Maguiguana e Djambul, tio de Gungunhane, em 1897 (68):

Causas

a) Fraca ocupação militar;
b) Secas de 1895 e 1897, aliadas à peste bovina e às pragas de gafanhotos que conduziram a condições de fome generalizada e propenderam os Angunes a regressar ao tradicional método de pilhagem para conseguirem sobreviver;
c) Abusos praticados pelos cipaios;
d) Ânsia de saquear as lojas de comerciantes indianos.

Gerhard Liesegang, em comunicação pessoal, opina ter sido objectivo dos revoltosos obrigar os Portugueses a repatriar Gungunhane e tornar a investi-lo no poder.

Gomes da Costa, por seu lado, aponta como razão a «má interpretação e a péssima execução da ordem do governador referente à confiscação do gado do Gungunhana» (69).

Esta última causa afigura-se-nos digna de atenção. Já referimos que todos os monarcas angunes se arrogavam a propriedade exclusiva da maioria do gado confiscado. Contudo, por razões de diversa ordem (receio de epizootias, fiscalização e cuidados mais intensivos, prova de deferência por súbditos importantes, etc.), as numerosas manadas eram postas à disposição de individualidades que, na prática, as tratavam como se fossem suas. É bem possível que esses fiéis depositários tivessem, após a derrota e o desterro do monarca, passado a considerar o gado como propriedade particular. A sua confiscação — no caso dos executores se terem guiado pelo conceito tradicional de propriedade real — não poderia deixar de provocar profundos ressentimentos.

Seja como for, no dia 21 de Julho de 1897, cerca de 5000 guerreiros, a maioria dos quais de origem vandau (70), atacaram o quadrado português em Macontene, tendo sido destroçados pela fuzilaria e logo perseguidos pela cavalaria e pelos auxiliares. Maguiguana foi morto durante a tentativa de fuga para o Transvaal.

Alguns prisioneiros declararam que Maguiguana mandara matar a própria mãe-substituta de Gungunhane, Umpibecazana, por ser favorável aos Portugueses e ter discordado do massacre do destacamento do alferes Chamusca, em Palule (71).

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